“O yoga não estabelece valores sociais, pois é um conjunto de orientações voltadas para o indivíduo em busca de si mesmo.” — Carlos Eduardo Gonçalves Barbosa, Livro de Ouro do Yoga, p. 264.
Este é o tipo de informação que deveria ser repetida o tempo todo, em especial a todos aqueles que vinculam o yoga a vários tipos de ação social: ambientalismo, vegetarianismo, voluntariado, igualitarismo, ações afirmativas, entre tantos outros tipos de ativismo.
Claro, claro, todas estas coisas podem ser boas, mas ainda melhor é saber até que ponto elas estão relacionadas com o yoga. O fato de algumas delas (como o vegetarianismo) fazerem parte dos hábitos de muitos praticantes de yoga não diz nada sobre o yoga, diz apenas sobre estas pessoas e sobre como elas compreendem o yoga. Quando “boas ações” são colocadas acima do propósito original do yoga — v. Patañjali e Svatmarama — ou, ainda, quando são vistas como meios para obter esse propósito, cria-se uma inversão perigosa. A partir daí o indivíduo acreditará que a ação realmente é um meio de se atingir o objetivo do yoga — crença esta que, no limite, cria verdadeiros “bazares kármicos”.
Não é uma questão de estabelecer o que o yoga é — embora isto seja possível –, mas sobretudo de saber o que o yoga não é. Também não é uma questão de fazer juízo sobre quem se dedica a boas ações, porque é possível que haja santos genuínos entre elas. Não pretendo me arrogar uma autoridade maior do que a que essas pessoas possuem, principalmente porque não tenho nenhuma autoridade para definir o que quer que seja. Meu objetivo aqui é trazer à tona o trabalho e as lições de pessoas que realmente encontraram o significado do yoga antes de buscá-lo entre o vasto leque de valores e ações sociais.
Em outras palavras, a pergunta essencial é: o que diferencia o santo que realiza boas ações e o praticante comum que realiza as mesmas ações? Pode-se dizer que não há diferença alguma, visto que as ações e os resultados das ações de ambos são os mesmos, mas esta seria uma resposta muito ingênua.
nov 17, 2009 @ 14:40:44
Inclusive é dever do praticante ver “ação na inação e inação na ação”, como descrito pelo Gita. Este ponto do post é muito importante, o que tenho visto por aí é uma série de ações afirmativas em nome do yoga e nada disso tem a ver. Como o Carlos disse na frase: é um conjunto de orientações para o… indivíduo. O yoga realmente não tem – e podemos falar assim – nenhum compromisso com coletividades, com algo social etc.
Ponto bem importante! Legal…
nov 26, 2009 @ 22:34:26
Pior do que a ideologização é a politização do yoga. O problema está em transformar praticantes em — como se costuma dizer nos textos políticos — “idiotas úteis”, quando o indivíduo mal sabe discernir entre o que é certo e o que é errado e mesmo assim engaja-se à causa.
Não me incomodo com ideologias. Incomodo-me com a falta de consciência, incomodo-me quando vejo que a ideologia associada ao yoga é um adereço, um elemento tão superficial quanto imagens de deuses hindus, e que ela não têm bases consistentes, tampouco justas.
Obrigado por mais um comentário, Leonardo.
Abraços.
nov 21, 2009 @ 18:12:02
Parabéns pelo blog, pelo discernimento e equilíbrio dos posts (inclusive no orkut). Aguardamos ”O que é Hatha Yoga – IV”.
nov 26, 2009 @ 22:30:38
Obrigado pelos cumprimentos e pela participação, Helio. Em breve devo publicar a quarta parte do “O que é Hatha Yoga”. Acho que mais partes virão, aliás.
Abraços.