Uns meses atrás li um texto — infelizmente não guardei a fonte — em que o autor, tratando de religiões, falava da importância de se aprofundar. Ele comparava o estudo e a prática de uma religião ao ato de cavar em busca de água doce: cavar vários buracos rasos em vários pontos diferentes certamente não trará resultados; o que realmente permite encontrar água doce é cavar fundo num único ponto. Como o leitor notará, a metáfora aplica-se a muitas coisas — ao yoga inclusive.

No yoga, a busca por métodos, linhas, escolas e orientações assemelha-se a cavar raso. Neófitos do yoga entusiasmam-se com esse turbilhão de invenções, sobretudo ao notar que muitas delas trazem benefícios palpáveis. Mas raramente fornecem água. Trazem a sensação de matar a sede, mas não permitem que a água corra, não permitem que o indivíduo realmente disponha de uma fonte permanente de água. Cada novo buraco indica outro ponto onde o indivíduo deverá cavar, submetendo-o a uma busca interminável que apenas aumentará sua sede.

O leitor poderá replicar que cavar fundo num único ponto pode revelar ao fim um solo seco, donde não se conseguirá uma única porção d’água. De forma análoga, a dedicação exclusiva a um único método pode lançar o indivíduo no vazio caso descubra que os anos de prática e estudo não frutificaram verdadeiramente. E assim muitas pessoas afirmam que é na diversidade que o Princípio se revela. Eu concordaria com isso se soubesse que cada um dos métodos modernos aplacou a sede de pelo menos uma pessoa. Certamente produziram pessoas mais saudáveis, mais fortes, mais bonitas, com melhor postura física, mas deixaram a água fluir? Revelaram, ao fim, uma fonte inesgotável de água fresca? Pelo menos seus apóstolos mataram a sede? O que aquele método produziu? Maestria cobiçosa ou verdadeiro aplacamento da sede?

link da imagem